Sentado aqui, vá percebendo como sua mente funciona, vá percebendo como você sai correndo atrás de uma palavra e sai analisando.
Somos um bando de ocidentais muito treinados na racionalidade, que é um instrumento maravilhoso. Quando a racionalidade surgiu na humanidade, quando o neocórtex se desenvolveu, de repente surgiu uma vozinha dentro da cabeça. Ela começava a me avisar: “olhe, a água é para direita, lembra? ”. E aí tudo aquilo que era muito instintivo, muito animal, começou a ter uma magia: eu falo e vocês entendem.Isso é maravilhoso!E foi tomando conta de tal forma que virou uma idolatria.Por isso, digo que estamos aqui para mudarmos de mestre, para perceber o quanto que a gente segue esse mestre-mente. A mente é o mestre do ego. A mente fala e o ego sai correndo atrás. Perceba! São coisas simples: eu acordo pela manhã, o corpo já despertou, existe um automatismo orgânico de ir ao banheiro depois que levanta (isso tem um pouco de neurociência, tem uns peptídeos que o levam a ir ao banheiro). Aí vem a mente e fala assim: “ahh, vou ao banheiro”. E a gente acha que está indo ao banheiro porque a mente resolveu, enquanto o corpo por si só já estava indo.Tem uma historinha zen de que eu gosto muito.O mestre - e aqui o que eu chamo de mestre é alguém que está muito aprofundado Nisso. Eu não tenho outra relação de mestre. Foi dado colocar isso daqui para falar, e quando você está ouvindo sou eu também ouvindo. Então, quem é que está falando? São vocês mesmos falando. Mas vamos devagar, vamos voltar para a historinha zen.O mestre saía todo dia pela manhã, bem cedo, para andar em volta do lago no Ashram.Tinha um amigo que ia com ele toda manhã. Um amigo do amigo pediu para passear com o mestre também. Mais tarde voltou com a resposta: o Mestre disse que você pode sim, então a umas 5h30 nos encontramos debaixo daquela árvore. Só que ele gosta de caminhar em silêncio, então por favor não fale nada.Muito excitado, o discípulo resolveu ficar em silêncio desde já, para treinar. Ficou quieto, almoçou quieto, feliz porque iria andar com o mestre pela manhã. Mil projeções, mil ideias. E quando eles saem andando pela manhã com o dia clareando, os passarinhos começam a cantar.Aí o céu começa a ficar de um azul inigualável, com um frescor e uma brisa das flores se abrindo, e um raio de sol começa a atravessar o lago, bate em
uma gota de orvalho e reflete um arco-íris. O discípulo não aguentou e exclamou: “Que lindo! ”Continuaram em silêncio, dando uma volta no lago. Chegaram ao fim da caminhada e se despediram. Foi cada um para um canto. Mais tarde, o discípulo foi falar com o amigo dele: “oh, o mestre disse que você não pode andar mais com a gente; você fala pra caramba” (risada...).E para aonde está apontando essa história? Para esse deslumbre que já está acontecendo aqui. Aí vem a mente e fala: “nossa que lindo” ... O corpo já está levantando para ir ao banheiro, vem a mente e fala: “ah vou ao banheiro, depois vou descer e tomar café.”Já está acontecendo.E é desse discípulo, é desse amigo interno falador que essa historinha trata.
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