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As 6 perfeições do Zen

1-

Arrumar a compreensão é um belo caminho para sua realização.

Não o único, é verdade.

As palavras são símbolos meramente figurativos. Ainda assim, são operativos.

BUDA, o Honrado, deixou como rastro seis valores para serem compreendidos e assim oferecer a possibilidade

de liberar os seres sencientes.

Generosidade é a primeira apresentada, na ordem que surgem, não necessariamente na ordem de importância.

Como veremos, todos valores são o mesmo, já que são símbolos figurativos da mesma Verdade!

Pode-se compreender um símbolo em várias níveis. Para a função da Iluminação, o conhecimento de Si, que é o conhecimento que te moveu até aqui, há que se mergulhar no mais sutil. No Saber-se.

Apresentar a generosidade como um ato de desapego material é valoroso, sim. É um gesto que pode suprir as necessidades de outras pessoas e, ao mesmo tempo, gerar uma atitude de desapego que prepara para um olhar mais profundo do que aquele que se restringe ao mundo material.

Generosidade, quanto ao tempo, à paciência, a atitudes que atendem ao outro, em vez de focar apenas em suas necessidades e desejos, é louvável. Conduz a um olhar amplo, altruísta, neutralizando a forte ideia de egoísmo.

Em sua profundidade, generosidade mesmo é ter conhecimento de Si, além das dualidades manifestas, que não reivindica separações, posses, propriedades.

Generoso mesmo é o saber que sabe que não há seres sencientes, ninguém a se libertado. Tudo é a Pureza luminosa e Vazia. Ahhh, isso sim, é plena generosidade.

 

2 -

Ir dizendo vai clareando.

No fundo, o único problema é a confusão. Há um segundo valor que - vale repetir - ainda que seja sempre a mesma Verdade, surge deste lado do prisma e que Aquele Sábio deixou apontado no tempo sobre o Sem Tempo: os preceitos.

Como o 2o ponto, não em hierarquia mas como vão sendo citados, é necessário conhecer que há moralidade. Em toda atitude, há um valor.

Diz-se que a existência é a travessia para a Margem de lá, do indizível. Alcançar a Margem de lá é a cada instante, esta travessia de todo momento, em todo fluxo de existir.

Num momento mais confuso, seguir determinados preceitos ajuda a criar um ambiente mais ameno, leve e livre de embaraços. Como cultivar o solo, prepara para algo muito maior. É um limiar delicado, pois está muito próximo de ser vinculado ao egoísmo de ter méritos pessoais, de evitar sofrimentos para si mesmo. Ainda que este passo desloque da insanidade da total ignorância, há ainda tanto encobrimento!...

É louvável quando se expressa um valor humanitário, onde seus desejos mais imediatos são colocados em perspectiva. É onde o olhar leva em consideração o mais amplo tanto no tempo, nas causalidade, como no espaço, considerando todos os entes envolvidos. Este olhar só pode ser realmente vivo na intenção não pessoal, não construída.

Todos estes níveis são artifícios, relatividade no território dual.

Brilha, luminosa, a ética espontânea, que é livre de delimitações, de separações. Não se dividir, não dar nascimento a aparências separadas, não prender seres e objetos em identidades é estar segundo os preceitos de Buda. No fluxo do existir, descobre-se o ponto não dual, onde não há outro, só isso chamado Amor inexplicável, antes de conceitos e qualidades. Moralidade é quando não há outro!!!

 

3-

E agora, um terceiro ponto essencial que vale a pena ser compreendido, contemplado, enquanto se vai existindo no fluxo de ser, leva o nome de: paciência, no sentida de perseverança, de humildade.

Que fique bem, bem claro que estes pontos não são para serem conquistados como fizeram bárbaros incivilizados de outrora (assim como os de hoje) invadindo e arrasando terras e populações nativas.

Na verdade, são atitudes já vivas, já presentes, apenas obscurecidas por outros pontos de foco de atenção. É como uma possibilidade presente que esteve aí todo o tempo, apenas relegada a planos secundários, em vez de ser a principal energia do bem viver!

Que aspecto é esse?

A atitude de paciência é como um antídoto no mundo agitado, pautado pelo excesso de informação, de estimulação, de vendas de efêmeros prazeres. Já aparece como benéfico desde este nível cotidiano das relações com o mundo. Não podemos esquecer que ainda assim carrega junto seu oposto, o impulso imediatista, que tem lá seu lugar em algumas circunstâncias. Pois bem é assim neste jogo do mundo...

E no ponto do coração do Buda, a Real Natureza sem mácula, o desabitar da ignorância, paciência, como a perseverança, são as palavras figurativas do continuum-sem-limites, do não nascido pois que se eterniza no além do tempo, Agora do sem-tempo.

Humildade é o indistinto, na mesma forma que se viu com a generosidade e a moralidade. O Sagrado Encontro onde não tem dois!

4-

Há um 4o. valor , uma quarta informação que chega ao campo dos que se dedicam ao despertar para a Consciência, seja porque este está no caminho espiritual, seja porque há uma urgência viva de se ter plenitude, pessoal e no mundo. As três primeiras informações que apontam para qualidades inerentes ao valor são, como está detalhado nos posts anteriores: a Generosidade, que é o descentramento no ego, a Moralidade, que é desfazer a ideia de

separação, desfazer projeções, a Paciência, que é a desautomatização das ações reativas da mente e o desabrochar da visão ampla da Consciência Pura.

Desde estas três qualidades, naturalmente surge a Estabilidade. Uma energia não flutuante, que não segue cegamente os impulsos dos sentidos, reconhecendo suas instabilidades, e assim assentando-se no que não muda, no sempre presente Ser.

Daí deriva o amor natural à Verdade todo englobante, e a estabilização na Despertude.

 

5-

Das seis expressões (que são como néctar para a mente doentia de dualidade), esta 5a expressão, que em sânscrito se diz Dhyana, representa a qualidade de assentar naturalmente na Presença Não Construída, anterior às palavras e conceitos.

Normalmente conhecida como Meditação, num nível restrito surge como uma prática que se utiliza de técnicas para fazer com que a mente-pensamento, sempre tão desfocada, instável e obsessiva, tenha um ponto de descanso. Ah, sim, todas as coisas precisam de descanso... E enquanto a compreensão ainda não se libertou das amarras dos conceitos, mesmo de conceitos em forma de crenças profundas num discurso silencioso subconsciente, a prática se torna uma sombra no deserto escaldante, um raio de sol que aquece nas planícies de gelo.

Esta é a prática oferecida no início do caminho, de valor imenso, quando assim deve ser.

Então brota um outro aspecto: torna-se energia que se direciona ao Conhecimento de Si! Assim desvela o aspecto da mente que não faz morada nos conceitos, e que não vagueia em pensamentos errantes nem desejos fixos.

A palavra Meditação começa a se transfigurar, ganhar novas nuances de sentido: deixa de dizer sobre um fazer, uma prática, para significar um território, uma visão. Passa então a significar a descoberta de que se tem, vivamente e de forma espontânea e sempre presente, um conhecer (ou consciência, luz, saber) sempre em tudo, feita de existência, de Ser e de totalidade não dividida.

Por fim, estes termos que nada mais são que sentidos simbólicos e figurativos, fazem revelação do Indizível, brincam com a impossibilidade da verdade dos conceitos e fazem brilhar o Silêncio não construído. Dhyana!

 

6-

E cá estamos, no último termo da série de 6 valores inestimáveis que apontam para o que se deve tomar atenção, sem os quais o automatismo repetitivo condicionado e iludidor permanece girando e girando.

Este modo de expressão é organizador - para os necessitados, claro! O campo de significados (in)forma a direção para onde deve-se olhar, aquele ponto cego criado pela ignorância que sobrepôs à Verdade um monte de distrações!!!

(...E não é que esta Sabedoria sacode as incoerências não racionais a ponto de fazer revelador que mesmo as distrações são a própria Sabedoria Prajna!!!...)

Dar-se conta do olhar que detecta como surgem os significados é conhecer a mente. Saber como se encadeam as formulações de tal maneira que aparecem como sólidos, com existência própria, este saber é a Visão, é o estado natural da mente essencial, espontânea, a perfeição que é sem nome, sem limites, todo permeante em tudo, o veículo que revira em si mesmo e revela-se Aquilo Que É.

Estes veículos levam para a margem onde habitam a Lucidez e a Visão. É a Despertude.

Neste 6o. valor, que conduz além da existência e da não-existência, a energia do conhecimento, de assentar sobre a Presença Não Construída, sem tempo, espontânea e não fabricada e que é antes, além, intocada por palavras e conceitos, ganha o nome de Sabedoria. Prajna.

Não se fixe nas palavras, que são apenas sentidos figurativos. Não deixe que esta velha armadilha te capture novamente.

A Verdade chegou aos teus ouvidos. Contemple cuidadosamente no fluxo cotidiano de sua existência a sempre presente mente essencial. É livre, não exclui nenhum existente, nenhuma aparência. Por não se prender ao que é impermanente, àquilo que não tem essência em si mesmo, é livre e, ainda assim, desenrola-se eficaz no campo das causas e efeitos sem a nada se agarrar.

O que é ensinado pelo Buda - Pura Honra em todas as direções - não é fixo, sem qualidades, é incognoscível, inescrutável, é a sua vida, é o que tudo é, é o saber se tornando constante, encontrando Isto não condicionado e livre por natureza própria, termina o caminho das iludidas identidades mal interpretadas.

Aqui está um mapa, simples e secreto, possível para tod@s, de realizar O Que É!

LUA CHEIA DE DEZEMBRO 2020

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