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Que estória você anda contando por aí?

Satsang e Meditação com Veetshish e Amigos - 08/10/2020

 

Hoje vou começar contando uma estorinha e, como toda boa estória, esta começa descrevendo o cenário. Onde se passa nossa estória? Para que você entre em contato com o cenário dessa estória, olhe a sua volta os objetos, a parede, a luminosidade do ambiente, olhe a sua volta as cores e formas, tão familiares…

Ouça com atenção e cuidado os sons que estão acontecendo, como quem está lendo a descrição muito bem escrita num livro. Olhe a sua volta com a curiosidade e expectativa, com a abertura de quem está penetrando numa aventura muito especial. 

Esse é o cenário da estória.

Há muitos, muitos séculos atrás se percebeu que a clareza da verdade do que tudo é - do que você é - era fundamental na existência humana. Desde há muitos, muitos séculos se percebeu que, quando a gente caminha pela Terra, pelo planeta, sem saber quem realmente a gente é, sem conhecer realmente o ambiente onde se vive, sem conhecer a estória, os personagens, sem conhecer de verdade o cenário onde tudo se passa, a realidade que tece as circunstâncias que são os acontecimentos da estória, já se percebeu desde muitos e muitos séculos atrás que esse tipo de ignorância fazia com que a estória perdesse seu encanto, a sua beleza e se tornasse uma confusão, um atropelamento... 

E é essa estória que hoje eu venho trazer de novo. Durante séculos eu venho trazendo a mesma estória, e hoje eu trago de novo... é a sua estória. 

E a sua estória, se ela não é cheia do seu coração, ela é uma estória que é atravessada por um automatismo, por uma ignorância, por uma falta de visão e essa falta de visão e esse automatismo, trazem o esquecimento da gente mesmo, um esquecimento da real natureza do que tudo é, um afastamento da vida, da sua essência mais linda. 

Então essa estória, que é a sua estória, ela está te chamando para que você coloque nela o coração, para que tenha ouvidos e olhos abertos, para que vá entrando no cenário como quem está degustando a mais fina iguaria. 

O presente tem esse nome e diz respeito ao momento agora. Mas essa palavra também tem o significado de ser algo dado, uma dádiva... a nossa estória fala do presente, porque não há outro lugar para uma estória acontecer senão agora, senão no presente.

Veja quantas cores tem o seu cenário, no ambiente que se desenrola a sua estória. Veja quantas formas foram manifestadas para o seu cenário, ouça os sons que foram manifestados para o seu cenário, o presente, a dádiva. 

Veja o personagem que é o centro da estória, quantos pensamentos atravessam esse personagem, qual a personalidade que surge desse personagem, quais os desejos, os medos, as idealizações, que memórias traz esse personagem... vai escutando a narrativa acontecendo agora. 

Que medos traz esse personagem e que desejos, que projeções futuras?

Veja quantas sensações atravessam o corpo. Veja que essa estória fala de um corpo num ambiente, com muitas sensações, com uma postura, com uma expectativa. Veja que essa estória atravessa a tua mente, veja que essa estória, ao mesmo tempo em que ela está acontecendo, como que em um filme passando na sua frente, está se desenrolando dentro da narrativa da sua mente, das suas percepções, das suas elaborações, dos nomes que você dá, das estórias que você conta. 

Veja que fantástico que é isso! Que o cenário, que é o cenário da tua estória, é exatamente esse cenário que está aí agora, que seus olhos podem, melhor do que ninguém, melhor do que qualquer palavra, descrever... descrever de uma forma vívida, presente, única, que só um olhar sabe descrever! 

Antes das palavras, existe a experiência direta do cenário, com suas cores e formas e com tudo que evoca. 

O objeto no cenário à sua frente, e o que que ele evoca: [a janela... as almofadas e o ventilador ligado... a parede pintada de uma cor suave... há o abajur… esse é o cenário desta estória aqui. E na estória aí?], esse cenário e tudo o que ele invoca, tudo o que ele evoca, inclui o personagem, o centro das evocações, das percepções. A narrativa da estória se desenrola além desse personagem e, por uma forma incrível, na mente do próprio personagem. 

E quem sou eu afinal de contas: o personagem ou essa mente aonde toda estória se desenrola, inclusive aonde o personagem compõe o cenário? 

Ele é o personagem, ele é aquele que age, de quem a estória se trata. 

Quem é você? 

Ah, você que está sentado aí, recostado. Ah, você, personagem dessa estória, faça valer o que há de mais belo nessa estória. Faça valer essa capacidade maravilhosa de, tecendo os fios da estória, ir reconhecendo a estória se formando como imagem na sua própria mente, se desenrolando no cenário à volta, no próprio corpo, no próprio personagem.

Ah, você que vive essa totalidade sem limites, não há como descrever essa verdade que ao mesmo tempo é a estória, o cenário e o personagem se desenrolando e ao mesmo tempo é só o saber, é só a luminosidade e a consciência de onde a estória se desenrola. 

Conta a estória que neste exato momento, no presente, todo o Universo está sendo criado, absolutamente todo o Universo está sendo manifestado neste exato momento. 

E esse Universo, conta a estória, ele surge de uma espacialidade, de uma "vaziez como o espaço", de algo que a gente não sabe nem dizer o que que é porque a gente não tem palavras. 

Então a gente chama de absoluto, de vaziez. Mas você que está aí, vendo o cenário aonde tudo está acontecendo, você também consegue ver esse início, antes do cenário aparecer. 

Conta a estória que neste exato momento, antes do cenário aparecer, há o absoluto, a vaziez, aquilo que não se nomeia, aquilo que a gente usa palavras figurativas para evocar, do fundo do seu coração, a verdade que é a fonts da estória, o absoluto, aquilo que não tem nome... o sem qualidades, o TAO... 

E conta a estória que do TAO se desenrola, exatamente agora, a criação de, primeiro, antes desse cenário que você viu com seus olhos, formas e cores que você viu com seus olhos, sons que você ouviu com seus ouvidos, temperatura do ambiente, a sensação no pescoço, a blusa sobre a pele, a brisa passando... antes desse cenário, que tem essas qualidades sensórias, sensíveis... 

Antes… no Agora, conta a estória que desse absoluto, dessa vaziez do TAO, as qualidades mesmo, os elementos mesmo, que vão fazer essa miríade de cores, formas e sons, esse movimento que dança a estória nesse momento, as qualidades aonde o pensar, o ouvir, aonde o se deliciar com estórias - que todos se deliciam com uma estória - estavam já lá presentes.

Presentes como um desdobrar de si mesmo, como uma aranha que faz a teia sair de seu próprio ventre. O absoluto já ali presente vibra dentro do seu próprio ventre, isso que não tem qualidades, isso aonde o primeiro molde, o primeiro sopro da existência se faz presente.

E conta a estória que esse primeiro sopro com suas qualidades começa a se combinar, a se movimentar... e ao se combinarem tecem o tecido dos universos, assim como os fios que estavam parados nos novelos são colocados num tear e ao serem tecidos, trançados e se combinarem, criam toda a manifestação de um grande pano de onde vão surgir todas as roupas, que são as roupas que vestem os planetas. 

E nos planetas formam-se as árvores, os mares, as águas, as nuvens, os animais... todos feitos da mesma roupa. 

Os corpos dos seres humanos, tecidos pela combinação desses fios, criam exatamente agora todo o Universo: esse momento.

Essa estória fala que esses elementos... 

Bom, é um pouco diferente do que a gente está acostumado aqui no ocidente, das outras estórias que contaram para gente. Contaram para gente uma estória de que havia certos elementos que se combinavam e formavam átomos e moléculas, que se juntavam e formavam todos os objetos, todas as formas vivas, animadas e inanimadas.

Só que essa outra estória, muito mais antiga do que essa, fala que esses elementos, eles são divinos porque são permeados por vida, eles são permeados por consciência. 

Esses elementos hoje, nessa estória, são chamados de água, terra, fogo, ar e éter, esses elementos, antes de se combinarem, nas suas formas mais sutis, são permeados de vida, de movimento, de consciência neles mesmos. E por isso essa estória dá nomes, dá nomes a esses elementos: Agni, Akasha, Vayu, Apas e Prithvi. 

Agni, que é o fogo, Akasha o éter, Vayu o vento, Apas a água e Prithvi a terra. 

Esses nomes, eles não designam esse material igual às moléculas, designam a força viva que a nossa imaginação, na nossa estória, reconhece como Devas, como forças da natureza, poderosos em si mesmos porque são feitos da energia da própria Consciência, do próprio Absoluto.

Olha agora! Olha agora esses mesmos Devas movimentando-se através do seu pensamento. Soprando ideias, pipocando uma ideia e outra.

Veja esses Devas, do ventre deles, ao se unirem e trançarem as suas teias, os seu fios tecem a combinação de água, terra, fogo, ar e espacialidade, tecem um corpo quente como o sol, em movimento como o ar. E os oceanos, feitos de água, movimento e calor e frio. E a terra que dá molde a isso tudo

Veja que essas forças, elas em si, elas mesmas, são vivas de consciência e nesse jogo de combinações tecem universos, constroem esse cenário, bem agora. Bem agora se constrói esse cenário e constrói esse personagem como mais um elemento desse cenário, que ao mesmo tempo que está ouvindo a estória, está ele mesmo sendo a estória viva. 

Ah, que magia maravilhosa!

Quem sou eu que ao mesmo tempo escuto a estória, vejo a dança dos elementais, dos Devas, tecendo os universos na minha mente e tecendo esse cenário à minha volta, tecendo esse corpo e esse pensamento? Há eu, o personagem que escuto a estória, reconheço a estória e ao mesmo tempo sou o personagem que vive a estória, que vive as forças sutis desses Devas, movimentando uma emoção que surge e uma alegria infantil de contar estórias. E uma alegria do Satsang estar contando estórias desse jeito, que eu nem imaginava que ia ser assim, e uma alegria que é uma alegria pura e inocente duma mente límpida que sabe que isso tudo é estória: todo o cenário e todas as imagens e todas as vivências, as experiências com todos os personagens, os pais, irmãos, vizinhos, a humanidade, os Devas, todos os elementos sendo essa estória maravilhosa...

Essa é a estória desse momento, essa é a estória do Presente.

Ter a dádiva de contar, de ouvir essa estória, é uma honra de maravilhas, como antigas dádivas de uma velha narrativa de um conto que vem da Anatólia, um conto como este, que todas as quintas-feiras se sentava para ser contado. E em cada quinta-feira que se escutava e se contava essa estória, todos os sofrimentos e as confusões eram desfeitas e um mundo luminoso surgia a partir de toda quinta-feira que essa estória era narrada. E a cada quinta-feira que essa estória for narrada, vai surgir de novo, imediatamente um novo universo. 

Um universo onde o personagem que está no cenário, com as suas vicissitudes, com a sua epopeia, nos seus desafios de sobreviver, comer, se cuidar, se relacionar, com as estórias de encontros e desencontros, de casamentos ou de solitudes, de filhos, de profissões que se fazem presentes nesse mundo, esse personagem da estória, ele mesmo conta a estória nesse exato momento, ele mesmo é a estória nesse exato momento e eis o mistério mais profundo que se faz presente para você.

Eis o presente dado a você. 

É ao contar essa estória que se dissolvem aqueles nublamentos, as confusões que habitam uma mente que não conseguia entender e se debatia de um lado para o outro. Sem compreender direito a estória, fazia tantos esforços para criar uma estória bela!... 

E é até engraçado porque, olha o cenário agora, olha o personagem na estória, e veja que não há estória mais bela do que essa! 

Saboreie a beleza dessa estória, desse momento.  

Veja que epopeia! Veja a que Odisseia foi a sua mente, que não sabia contar estórias e vivia num ponto de onde parecia que era necessário muito esforço para fazer a estória acontecer. Que era necessário muito esforço para ver e ser a beleza dessa estória. Que imaginava que uma estória bonita era sempre diferente dessa estória que a gente estava vivendo. 

Esse personagem, confuso porque não sabia contar estórias, saía tonto como um fantasma, de um lado para o outro com lamentações, querendo sempre uma estória melhor. 

Mas quando, às quintas-feiras, por séculos, a estória é narrada, desde o início da criação nesse exato momento, desde o início da manifestação, que é a manifestação nesse exato momento, a iluminação amanhece. Vem do Absoluto, desabrochando nesses Devas que se desdobram e se combinam e dos seus ventres tecem os fios que tecem o que a gente chama de mundo concreto, de mundo grosseiro, e que tecem mundos sutis de pensamentos, e que tecem as emoções... Então agora, fazendo o caminho inverso a estória vai se refazer de trás para frente. 

As estórias se narram, estórias dentro de estórias, e elas agora se fazem de trás para frente. Contam sobre os fios de cores e formas que compõem a visão, fios de sensações que são os gostos e sons e tatos, também sobre o fio que me faz sentir um personagem na vida, que faz a sensação de existir, a sensação de saber... 

Olha essa sensação de existir e saber: está com as roupas, com as mesmas roupas de que são feitas as paredes, os animais, os oceanos, os planetas, as estrelas do céu. 

Com esses mesmos fios, os pensamentos, imagens e desejos se tecem. Esses mesmos fios são os fios dessas forças, divinas porque cheias de vida, porque elas mesmas o próprio mistério, o próprio Absoluto na sua maior pureza, na sua maior simplicidade, antes de se combinarem, agora olhando cada cor, olhando cada objeto, ouvindo cada som, sentindo cada temperatura, sensação, tato, vendo cada pensamento passando, vendo o brilho de ouvir uma estória, de ficar assim “hum, onde será que essa estória vai dar ?”, vendo esses movimentos da mente e do coração, todos eles dançados pelas próprias deidades, pelos próprios Devas. 

Quem é mesmo você?

Dando passos para dentro da própria origem, desdobrando a mandala para dentro, encontrando dentro da sensação de existir e dentro da revelação de cada objeto que existe, de cada cenário que surge, encontrando as danças desses fios, que são a força, a energia pura viva e consciente, dessas forças primeiras, dessas qualidades primeiras, vendo que o próprio ver, que a própria mente que vai se dando conta da estória, vai se desdobrando dentro dela mesma: é a dança dos próprios fios!

Quem é você mesmo?

E eis a alegria no coração, que também é o fio do fogo, água, do ar, do espaço, celebrando esse momento e celebrando a autoconsciência, a sabedoria da estória que narra a si mesma. 

A magia dessa estória que é contada às quintas-feiras, aonde aquele que narra a estória e aquele que escuta a estória são o mesmo, aquele que narra a estória e que vive a estória são o mesmo, essa magia, esse poder, dissolvem a confusão e a ignorância daquela epopeia, daquela Odisseia, do personagem que não sabia contar a estória. 

Quantas formas, diz o pensamento. Quantos cenários, quantos personagens? Sete bilhões na forma humana... mais bilhões na forma de inseto, mais trilhões na forma de galáxias e sóis. Quanta criatividade esses Devas têm em si mesmos, porque eles são a fonte, eles são o próprio criador, reconhece o pensamento.

Quanta força de vida explodindo, nascendo, se desenrolando e morrendo! E novas formas de vida a cada célula que nasce agora e se desfaz. A cada orquídea que abre e se vai, a cada pensamento que surge, nasce e se vai... 

Essa estória deixa que essa mente que narra a estória e que é também o personagem da estória, seja abençoada com a não dualidade. Seja abençoada com a sabedoria de que há uma ordem própria nos cenários, há uma ordem própria no desenrolar da estória do personagem.

A mente conta uma estória de tempo e o olhar do Absoluto reconhece que só tem agora. Vai entregando seu coração ao agora, vai deixando essa mente que não sabe contar essa estória e que fica presa às estórias do tempo e que fica presa a uma ilusão de um passado e de um futuro e que anda tonta querendo ajustar o passado e o futuro, deixa essa mente agora reverenciar, abaixar sua cabeça e se entregar à mente não dual, ao brilho do coração não dual, ao grande Absoluto de onde todas as mandalas se desenrolam para dentro criando universos e criando o seu universo e o seu cenário e esse personagem. 

Veja que a sua realidade essencial, a verdade de quem você é, não deixa nada de fora. Veja que não há esforço para ser quem você é! Veja que não há esforço para criar todos os universos. Veja a espontaneidade da criação deste momento. 

E você, personagem que andou tonto por tanto tempo, não sabendo contar esta estória... deixe que essa verdade penetre no seu coração para que você possa descansar. 

Sabendo que aquilo que eram as estórias do tempo vieram e passaram como uma dança, como uma onda que surge e se esvai, mas que você continua intocado. Que aquelas estórias antigas, que vêm agora como uma narrativa, uma memória e que através dessa narrativa, dessa memória, desses fios que tecem a memória e o pensamento, são como as árvores que aparecem projetadas nas águas calmas de um lago. São só imagens. 

Nada disso te define. Você, personagem que andava tonto, querendo ajustar o passado para se sentir melhor no presente, para garantir um futuro mais livre e pacífico... você que só sabia olhar essa estória, que é uma estória do tempo, descansa agora na sua verdadeira estória que não está no tempo, mas que está na verticalidade deste exato momento.

Veja que mesmo a memória, que você visita tantas vezes, ela pode ser deixada quieta, enquanto você explora os cenários, o mundo dos Devas, o mundo do Absoluto. 

E eis que ao deixar de lado as memórias que tanto foram usadas para tentar definir esse personagem, que tanto foram usadas para repetir as dores, as limitações, os desejos, as incompletudes... essas memórias que nada mais são do que reflexos no grande lago da memória, podem ser deixadas quietas enquanto os olhos se voltam para a ressensibilidade da criatividade maravilhosa de existir, de ser. 

E ter a capacidade de reconhecer não só esse cenário, não só a roupa desse personagem enquanto um corpo, não só a trama desse personagem enquanto uma memória do tempo, com seus desejos de futuro, mas essa capacidade de reconhecer a dança mesma dos elementos que criam isso tudo, a força arquetípica anterior.

Ao descansar o reconhecimento no Absoluto, veja a capacidade criativa de transmutação, daquele foco de mente que ficava apenas na memória e portanto tinha toda uma Odisseia do que se lamentar, de coisas que não foram bem resolvidas, de coisas que foram os fracassos, que tem o orgulho de arrogar os troféus, as medalhas adquiridas na memória do tempo, veja como essa estória vai se tornando tão pequena frente à grandiosidade da dança dos Devas, criando, inclusive, esse personagem narrando essa estória. 

E, de uma mente egóica, você agora acaba de penetrar o que a gente chama de mente arquetípica. Você agora penetra o mundo dos deuses. E a estória ainda não acabou, porque habitando o mundo dos deuses é quase que imediato, quase que em um nano segundo, a absorção no mundo do Absoluto. 

No mundo dos deuses, se faz mais vívida e mais presente a grande aventura de ver que todo o mundo dos deuses, esses fios de água, terra, fogo e ar que se fazem presentes através dos nossos cinco sentidos, e que, ainda que a gente não consiga ver realmente esses Devas sutis, eles se apresentam através das formas que os nossos olhos e sentidos veem, da mesma forma que a gente não consegue ver o ar passando, mas a gente vê as folhas das árvores balançando.

Esse tipo de conhecimento se diz que é um conhecimento por inferência, que é através do que os sentidos conseguem acessar, que é o mais grosseiro, formas, cores, sons, sensações táteis, paladar, língua, olfato, o mais grosseiro, ele avisa e anuncia os Devas mais sutis. 

Penetrando esse mundo dos Devas mais sutis, se anuncia o início da estória... lembrando que toda a estória só pôde se desenrolar, não por causa de átomos e moléculas, mas porque há vida e consciência na origem de tudo. 

Vida e consciência, ser e saber, luz de conhecimento e luz do amor, é a origem de tudo, é a substância de tudo. Veja, veja através dos sinais, que é o cenário aí à sua volta e esse personagem nessa estória agora! Essa estória agora é a estória da caça ao tesouro, ao grande tesouro de sabedoria e amor, que você vai ter que decifrar as mensagens para reconhecer o tesouro que está aí no seu colo, no fundo do seu coração, em cada pensamento, na narrativa da estória desse personagem.

O tesouro do Ser, do Amor, de onde todos os fios nascem, como luz e doação, como luz e expressão. 

Podem agora os bons ouvidos, que não são estes aqui, mas aqueles que sabem escutar essa estória, preencher o coração de reconhecimento, desobstruir os nublamentos, os véus, as confusões... 

Possa esse personagem caminhar por todos os cenários que surgirem. Narrar todas as estórias que vierem, as mais gloriosas e as mais trágicas, sem sair do olhar que sabe do mundo do Absoluto. 

Possa fecundar aquilo que era confusão com a clareza do Absoluto.

Essas são as bençãos que a estória de quinta-feira à noite faz surgir. 

Diz-se no Zen que a gente leva o cavalo para beber água, mas cabe ao cavalo querer abaixar a cabeça e beber a água pura da fonte.

Medite sobre essa estória, medite sobre essas palavras, medite sobre a Verdade, que é essa estória viva nesse momento, em qualquer momento.

Reconheça o Absoluto através dos Devas, através dos elementos sutis, através das combinações infinitas, que como pegadas nos faz, como bons pesquisadores e investigadores que sabem seguir pegadas, desvendar o mistério desse mapa e ver que o tesouro sempre foi seu, que o tesouro sempre foi você, que o tesouro sempre esteve disponível, tão escondido porque tão óbvio. Tão escondido porque o personagem não sabia contar estórias, estórias de verdade. O personagem só conhecia estórias ilusórias.

E você, quem é mesmo? 

Essa é a estória de quinta-feira.

Agora que você conhece a estória, toda quinta-feira “conta ela”, nem que seja aos pedacinhos, uma quinta-feira atrás da outra. Conta para seus amigos, para seus filhos, para seus netos, para seu companheiro, sua companheira... conta para você mesmo, se não tiver ninguém mais para contar, nem que seja uma parte da estória. Às quintas-feiras é o dia de contar ela inteira, na verdade, estou me lembrando agora, porque é assim que acontece essa estória, ela vai se fazendo lembrada enquanto ela vai sendo contada. Porque essa estória tem que ser contada, os pedacinhos dela, durante todos os dias da semana, mas nas quintas-feiras é o dia de contá-la por inteiro. 

Para uma memória que talvez não vá conseguir lembrar dessa estória da forma como foi narrada aqui, tem uma outra forma de se contar essa mesma estória, que não é pela memória. É quando o personagem para e se propõe a narrar a estória. E a estória começa com esse cenário que eu vou descrever para vocês. 

Sabe como é que é o cenário? Não é para fechar os olhos para imaginar, é para abrir os olhos e ver as cores e os objetos, porque a estória que eu vou contar tem esse cenário aí. A estória que eu vou contar tem o som que você está ouvindo agora e tem um personagem que está sentindo o que você está sentindo agora! E tem expressões no rosto que são as expressões que você está tendo agora! É assim que sempre começa a estória.

A estória das quintas-feiras, que se conta desde antes do tempo existir. 

Então, quinta-feira é qualquer dia, quinta-feira é todos os dias!

A estória acabou aqui na sua narrativa. A fala que fala essa estória acabou aqui. Não é uma estória linda? É uma estória que não tem tempo. Uma estória que só acontece agora. Uma estória que começa sempre agora. É uma estória que não tem fim. Ou eu posso dizer também que é uma estória que na verdade o começo se faz tão longe, mas tão longe... como é que a gente conta uma estória daquilo que não tem tempo? Então a gente começa a estória agora. Como é que a gente termina uma estória daquilo que não tem tempo? Então a gente simplesmente se cala... e é uma estória sem fim. 

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