Upadesa Saram versos
Livre Tradução - Inara Barros
Revisão - José Paiva
Pela vontade do Criador, ações dão frutos.
É a ação, então, Suprema? Não, ela é inerte, inconsciente.
II
Os frutos da ação não são duradouros e causam a queda da pessoa no grande oceano do karma, bloqueando seu progresso espiritual
III
As ações que são realizadas sem desejo pessoal e cujos frutos são entregues ao Senhor purifica a mente e leva à liberação.
IV
Rituais de adoração, repetição de nomes sagrados e meditação são praticados com o corpo, com a palavra e com a mente e
progridem em excelência nessa ordem.
V
Servir ao mundo, considerando-o como a manifestação do Senhor, é oferecer louvor ao Senhor das Oito Formas.
VI
Meditação silenciosa, na mente, é o mais alto e melhor louvor devocional, ou a pronúncia de nomes sagrados, em voz alta ou baixa.
VII
Semelhante a um fluxo contínuo de óleo ou uma corrente de água, meditação contínua é melhor que aquela que é interrompida.
VIII
Meditação na identidade individual e no Senhor, “Eu sou Ele”, é uma forma mais purificada que a meditação que assume uma diferença entre eles.
IX
Pelo poder da meditação, desprovido de pensamentos, a pessoa se estabelece no verdadeiro Ser, e isso é a suprema devoção.
X
A prática de fixar a mente em sua própria fonte, no Coração, é, sem dúvida, verdadeira Bhakti-yoga e compreensão.
XI
A mente é subjugada pela regulação da respiração, assim como um pássaro fica preso quando capturado no ninho. Esta prática controla a mente.
XII
Mente e respiração, manifestando-se em pensamento e ação, derivam de uma fonte comum, Sakti.
XIII
Absorção, ou laya, e destruição, ou nasa, são os dois tipos de controle da mente. Quando meramente absorvida, ela emerge novamente; mas não, quando é destruída.
XIV
Quando a mente foi suspensa pela retenção da respiração, ela pode ser aniquilada pela atenção focalizada unicamente no Ser.
XV
Que ação resta a ser feita pelo grande yogi cuja mente foi extinta, e quem descansa no seu verdadeiro e transcendente estado de Ser?
XVI
Se a pessoa retirou a atenção dos objetos externos dos sentidos e pôs o foco na luz do Ser, esta é a verdadeira visão da Realidade.
XVII
Novamente, se a pessoa insiste em perguntar “O que é esta minha mente?”, ela vai descobrir que realmente não existe tal coisa como: ‘mente’. Este é o caminho direto.
XVIII
O que a pessoa pensava sobre sua mente é meramente um amontoado de pensamentos. Todos estes pensamentos dependem de um único pensamento “Eu”, o ego. Sendo assim, esta assim chamada mente é o pensamento “Eu”.
XIX
Se a pessoa se pergunta “De onde vem este Eu?”, ele vai desaparecer. Isto é Autoinquirição ou Atma-Vichara.
XX
Onde este ‘Eu’ desapareceu e submergiu em sua Fonte, lá aparece espontânea e continuamente o “Eu-Eu”. Este é o Coração, o infinito Supremo Ser.
XXI
E este ininterrupto “Eu-Eu” é o verdadeiro significado do termo ‘Eu’ porque, quando o estado de vigília ‘Eu-ego’ diariamente desaparece no sono profundo, o ‘Eu’ real permanece.
XXII
Este verdadeiro ‘Eu’, a única Realidade, não é o corpo, ou os sentidos, ou a mente, ou a respiração, ou a ignorância. Estes são todos inertes e inanimados.
XXIII
Há apenas um único Ser que pode conhecer a Realidade. Este apenas um Ser é: Realidade e Consciência.
XXIV
Ambos, Criador e criatura, são essencialmente uma e a mesma Realidade. Sua aparente diferença é devida apenas a diferenças de forma e níveis de conhecimento.
XXV
Quando a criatura abandona sua ilusória forma individual e reconhece a si mesma como sem atributos, ela percebe o Criador como o seu verdadeiro Ser.
XXVI
Sendo o Ser, Ele se conhece como Tal, porque há apenas um único Ser e não dois. Este Ser e conhecer o Ser é permanecer na Realidade.
XXVII
O verdadeiro conhecimento está além daquilo que pensamos ser o ‘conhecimento’ ou ‘ignorância’ porque no estado de Não diferenciação que outra coisa há para ser conhecida?
XXVIII
Se o seu verdadeiro Ser é conhecido, então não há mais nem nascimento nem morte, mas eterno Ser, Consciência e Bemaventurança.
XXIX
O jiva que alcança o estado de Suprema Bem-aventurança além de qualquer pensamento de limitação ou liberdade é verdadeiramente devotado ao Senhor.
XXX
Quando o ‘Eu’ individual desapareceu e o real ‘Eu-Eu’ foi encontrado, este é o mais excelente dos tapas(austeridades). Ramana diz isto.
Upadesa Saram + Canção Celestial Ramana Maharshi
Caminho de Ramana Maharshi
Voltando aos anos quarenta, quando Ele ainda estava fisicamente entre nós, me lembro, como se fosse ontem, da recitação diária dos versos em Sânscrito do Upadesa Saram diante dele. No final da tarde, com Arunachala, a sagrada montanha surgindo ao norte acima de nós e com suas longas sombras suavizando as linhas do pátio, um grupo de brahmins, à sombra da mangueira, cantava o poema. Maharshi sentado diante deles em seu sofá de sapê ao lado do Antigo Salão, ouvia a rica cadência dos versos em Sânscrito e parecia estar em algum reino distante de calma indiferente, apesar de que estava prontamente alerta para a mínima variação de som ou distorção. Um pavão branco em sua gaiola sobre o sofá assistia a toda a cena. Esta era uma rotina regular no Ashram e, décadas mais tarde, eu ouviria os mesmos cânticos no santuário erguido sobre seu Samadhi.
De todas as palavras do sábio, Upadesa Saram é considerado o supremo legado de seus ensinamentos.
Alguém pode citar Ulladu Narpadu igualmente como uma exposição reveladora, mas o primeiro foi composto como um trabalho integrado num único encontro, sem correção, enquanto o outro foi uma coletânea de versos que ele escreveu em ocasiões diferentes e que foi mais tarde compilada por Muruganar.1
Upadesa Saram foi escrito por Sri Bhagavan não apenas em seu nativo Tamil, mas também em Sânscrito, Telugo e Malayalam de tão importantes que ele considerou esses “Ensinamentos Essenciais”. Apesar de ele nunca ter estudado a gramática Sânscrita, sua composição espontânea numa métrica melodiosa e ritmada da linguagem clássica muito impressionou o grande estudioso do Sânscrito Kavyakantha Ganapati Muni, que prontamente escreveu um comentário relevante sobre o assunto.
Este supremo ensinamento cobre os tradicionais quatro caminhos de Sadhana: karma, bhakti, raja e jnana yogas, ou aqueles da ação, devoção, controle da mente e conhecimento respectivamente. Por raja yoga Maharshi queria dizer essencialmente pranayama ou controle da respiração com o objetivo de aquietar a mente rebelde. Ele deu pouca importância a esse aspecto da raja yoga conhecido como hatha yoga, que na maioria das vezes prova ser um obstáculo ao progresso espiritual por sua demasiada ênfase em movimentos físicos, posições e funcionamento do corpo.
O Maharshi não apresentou esses quatro caminhos como práticas igualmente eficientes, pois, para Ele, apenas o último deles é verdadeiramente essencial. Três métodos são descritos nos primeiros quinze versos, enquanto os outros quinze são devotados à exposição de jnana yoga. Estes primeiros versos são vistos como práticas que levam e qualificam o indivíduo para o inescapável e direto caminho de atma vichara (Autoinquirição). Bhakti, entretanto, num certo sentido, tem uma posição especial em seu ensinamento, como poderemos ver mais tarde, e Ele mesmo declarou “bhakti e jnana são o mesmo”.
O que impulsionou meu próprio interesse em Upadesa Saram ao longo de quarenta anos foi a resposta de Maharshi a uma pergunta que lhe fiz sobre o significado do primeiro verso. Este verso se refere ao controle e responsabilidade pelas ações e seus frutos. Sua resposta foi que nossas ações são todas determinadas pelo Criador, e que este suposto problema de destino versus livre arbítrio é “apenas para aquele que pensa que é o corpo.”
A história frequentemente contada sobre a origem do Upadesa Saram é esta: O grande poeta Tamil Muruganar estava compondo um poema baseado na antiga lenda sobre um grupo de ascetas que realizava rituais na floresta de Daruka. Eles esperavam assim obter poderes especiais para satisfazer suas ambições mundanas. Lord Shiva, vendo que eles estavam no caminho errado, disfarçou-se de mendigo e acompanhado por Vishnu, como uma linda mulher, apareceu diante dos ascetas. Eles foram tomados de desejo por Vishnu e suas esposas ficaram fascinadas por Shiva. Cheios de ciúmes, os ascetas usaram poderes mágicos adquiridos por suas austeridades e enviaram um tigre, cobras mortais e um elefante contra o mendigo. Quando Shiva usou as serpentes como um colar e matou as outras feras invocadas, os mágicos ascetas caíram diante de seus pés e pediram que fossem instruídos a fim de alcançar a benção da liberação.
Muruganar escreveu o resto de seu poema, mas sentiu que somente Maharshi, como a própria encarnação de Shiva, poderia escrever a instrução adequada sobre o tema da liberação. Sendo assim, Ramana Maharshi compôs trinta versos em Tamil, entitulado Upadesa Undiyar, descrevendo os vários caminhos de liberação, culminando com sua própria prescrição da Autoinquirição.6 Ele então traduziu-os para o Sânscrito como “Ensinamentos Essenciais” ou Upadesa Saram.
Este tesouro de instrução e orientação consegue resumir, explicar e integrar o grande caminho - marga - da disciplina Hinduísta rumo à liberação e então aponta o caminho único de Atma Vichara como sendo o caminho final para moksha. Este é o legado que Ele ofereceu à humanidade. Karma, bhakti, raja, e jnana yogas são cada um apropriado para diferentes tipos de indivíduos ou para diferentes estágios de desenvolvimento espiritual. Atma vichara, procura do Ser, é o próprio caminho do Maharshi, santificado por Sua própria experiência.
A pergunta final
A resposta de Maharshi à minha pergunta quanto ao significado do primeiro verso do Upadesa Saram foi especificamente que “Apenas o corpo está sujeito ao destino”. O destino é traçado pela vontade ou sakti de Īśwarā , o Brahman manifestado. Ele não é pelas ações, ou pela vontade do indivíduo que sofre ou desfruta do destino. Ele disse em algum lugar: “O Ordenador controla o destino das almas de acordo com seu prarabdha karma. O que quer que esteja destinado a não acontecer não irá acontecer, tente o quanto quiser. O que estiver destinado a acontecer irá acontecer, faça o que quiser para prevenir isso ... Todas as atividades do corpo estão determinadas quando ele vem a existir. Não cabe a você aceita ou rejeitar isso”.1 Ele aplicou isso mesmo para o menor detalhe na vida de alguém, como tomar um copo d'água, por exemplo, às 10h37min da manhã de 10 de novembro.
Alguém poderia, intelectualmente pelo menos, aceitar isto de forma absoluta não fosse por suas declarações aparentemente contraditórias feitas a outros como: “livre arbítrio existe junto com a individualidade. Enquanto a individualidade durar, haverá livre arbítrio.”3 Outra confusão foi adicionada, para mim, quando o resto de Sua resposta à minha pergunta foi: “A mente é sujeita a ambos, destino e livre arbítrio.” Nossas atitudes mentais certamente afetam outras ações. Se a mente tiver mesmo um pequeno livre arbítrio, então devemos ter um mínimo de controle sobre nossas ações. Eu frequentemente ponderava sobre este dilema: seriam esses diferentes pronunciamentos de fácil acomodação no entendimento das pessoas de variados níveis no caminho espiritual?
Outra resposta, nem sempre óbvia à primeira vista, é que algumas vezes Ele se referia ao indivíduo, o jiva, e outras vezes ao Ser real, o atman — o primeiro sendo limitado pelo destino e o segundo sendo totalmente livre.4 Nós somos, é claro, em um ou outro sentido, qualquer um destes e ambos. No que diz respeito ao indivíduo, está claro que os sábios indianos inequivocamente negaram a possibilidade do livre arbítrio. Vivekananda insistia que “livre arbítrio” é uma contradição de termos.
Nisargadatta Maharaj, quando perguntado: “Existe tal coisa como livre arbítrio? Não sou livre para desejar?”
Ele respondeu, “Ah não, você é compelido pelo desejo. Na Índia, a própria ideia de livre arbítrio parece tão ridícula que não há palavra para isso.”
A resposta do Maharshi de que a mente é sujeita ao destino e ao livre arbítrio foi ampliada em outra resposta a um devoto: “A única liberdade que você tem é voltar sua mente para dentro e renunciar à toda atividade mental.” 7 Mas, desde que o indivíduo é uma entidade ilusória, produzida pela imaginação da mente, ela própria uma entidade ilusória surgindo do pensamento “EU”, a mente não pode ser parada pela vontade "dela”. A vontade que controla mesmo as reações da mente aos eventos, sua habilidade de permanecer desapegada como mera testemunha, sem o senso de “fazedor”, deve ser aquela Suprema Vontade. Esta habilidade, então, do ponto de vista do indivíduo não pode, de verdade, ser livre arbítrio, mas sim livre vontade. Este é real significado de Ramana Maharshi para o questionamento: “A única liberdade que você tem?”
Se identificamos “livre vontade” com aquele poder que restaura no indivíduo sofredor a sua identidade original e retorna-o à sua fonte bem- aventurada no caminho prescrito pelo Guru, então o poder que o lançou no caminho da criação (nascimento, morte e renascimento) pode ser chamado de "vontade obrigatória”.
Em qualquer caso, há apenas uma vontade, aquela de Īśwarā , o Senhor.
Então, o que dizer da luta que acontece entre o desejo por moksha ou liberação e a atração das vasanas ou tendências, que nos mantêm em velhos padrões de medo, de desejo por prazer, de fama e de conforto? Devemos olhar para ambas as forças em eterna batalha como Forças Divinas, cada uma, a manifestação da Divina Vontade, de sakti ou Īśwarā. Ambos os elementos escravizantes e redentores têm apenas uma origem. As falas e as ações realizadas pelos atores heróicos ou vilões numa peça vêm do mesmo dramaturgo e não podem ser modificadas pelos atores.
A exposição acima, embora fiel ao ensinamento de Maharshi, é quase inevitavelmente pouco convincente porque cada um de nós tem certeza de que faz escolhas, ou que exerce, ou pode exercer sua vontade a cada momento do dia.11 Isto é o maravilhoso jogo de maya, a base do mecanismo do mundo de ilusão. A verdade dessa questão só pode ser realizada pela rendição de nossas vontades. Não disse o Maharshi que a rendição é um dos dois caminhos e que, de verdade, bhakti não difere de vichara? A pessoa não pode se render a menos que saiba quem é, e não pode saber quem é a menos que tenha entregado seu ego.12 Vichara é bhakti, ou melhor parabhakti.
Sri Maharshi disse que todos nós somos em essência jnanis, movendo-nos na eterna roda deSamsara.
Todos vivemos sob os mesmos imperativos e nos movemos em direção à mesma redenção. Sem a exteriorização não poderia haver espelho da criação, permitindo a Brahman ver a si mesmo. A limitação e a liberdade são, cada uma, “necessárias”. A limitação não pode escolher. A liberdade não escolhe. Pois não há escolha. Upadesa Saram descreve a entrada no caminho de retorno. Ler e absorver seu significado é receber Sua livre vontade, Sua Graça.
Os ascetas da floresta de Daruka estavam, pensavam eles, exercendo seu livre arbítrio para realizar rituais de austeridades e ações destinadas a trazer-lhes poder e felicidade. O Maharshi explica, entretanto, no primeiro verso, que karma, ou ação, não tem nenhum poder em si mesmo e que os frutos das ações são distribuídos por Īśwarā, o real fazedor. Mas, se os ascetas não tivessem sido desencaminhados pela vontade obrigatória do Senhor, eles não teriam, como resultado de sua subsequente desilusão, pedido pela graça de Shiva e recebido Sua livre vontade.
Nós, como os ascetas, estamos vivendo e lutando sob a vontade obrigatória de Īśwarā. Nós, como os ascetas, podemos também absorver este Supremo Ensinamento, o Upadesa Saram de Sri BhagavanMaharshi, que é, ele próprio, Shiva, oferecendo Sua livre vontade para aqueles destinados a aceitá-la. E se somos transformados assim, não será por nosso livre arbítrio, mas pela Sua livre vontade.
Quando o Maharshi diz que o corpo é sujeito apenas ao destino, Ele inclui todos os corpos. Mesmo o corpo de um jnani está sob o controle do prarabdha karma.
Quando Ele diz que a única ‘liberdade' que a pessoa tem é voltar-se para dentro e parar a atividade mental, Ele inclui também jnanis. Então como os jnanis diferem dos jivas, os indivíduos limitados pelo tempo, espaço e circunstâncias? A única diferença é que o jnani sabe quem ele é e não mais se identifica com o corpo vulnerável porque ele já se voltou para dentro definitivamente. Mas não acreditam os devotos que o jnani pode, se assim escolher, controlar as ações de seu corpo, produzir milagres etc.? Claro, ele produz ‘milagres’ de amor e graça porque essa é sua verdadeira natureza. Mas ele não tem ‘objetivo’ ou ‘desejo’ de fazer tais coisas e nem mesmo pensa nelas como milagres.
O próprio desejo de exercer siddhi, poderes sobrenaturais, é a negação de moksha, de liberação.
Mas alguém ainda pode dizer: “Ah, Eu supliquei e me sacrifiquei para cair aos seus pés! Todo este esforço é inútil?” Sri Bhagavan respondeu: “Quem diz que esforços não são efetivos? Mas quem o fez fazer tais coisas?” O último vestígio de ego é acreditar que o indivíduo tem o poder de 'cair aos Seus pés!' É Ele somente que traz cada um de volta a Ele. Sri Maharshi citou Thayumanavar “Oh Senhor! Vindo comigo em cada nascimento, nunca me abandonando e finalmente me resgatando! Tal é a experiência da Realização.”
Tudo isso expressa um sentido de futilidade e inutilidade do esforço humano? Ao contrário, isto revela que, quando o esforço é necessário no Esquema Divino, o esforço será imediato e eficaz — mas não será nosso esforço, por mais que nosso ego diga que é. No Bhagavad Gita, Senhor Krishna diz: “Eu sou o esforço daquele que faz esforço.”
Na afirmação de que a pessoa tem ‘livre arbítrio’, o Maharshi está se dirigindo ao eterno EU-EU em cada um de nós e não ao ilusório ‘ego-EU’. Este ‘livre arbítrio’ é aquilo que Ele diz ser todo o significado das escrituras.
Quando Ele diz “A liberdade que você tem é voltar-se para dentro”, Ele fala do Ser real em todos.
Ele vê, Ele nos fala: nenhuma diferença há entre Ele e nós —somos sempre livres, limitação é apenas nossa imaginação. A verdade última é que o Ser real está além de todos os pares de opostos, além de aprisionamento e também além de liberdade. Quem é este que é limitado ou livre?
Para todo e qualquer questionamento, Ele sempre insisti: 'Quem é você?’. Até que a pergunta sejarespondida, qualquer outra questão, tal como essa referente a livre arbítrio e destino, pode ser explicada e entendida apenas de forma experimental — oferecendo uma verdade provisória a uma ilusão persistente, ou maya. A verdadeira resposta é encontrada, não através de palavras inadequadas a este propósito, mas somente em mouna, aquela quietude e silêncio, que Ele experenciou durante Sua vida e que permanece como seu legado.
I - kartur-ājñayā prāpyate phalam karma kiṁ paraṁ karma taj-jaḍam
Pela vontade do Criador, ações dão frutos. É a ação, então, Suprema? Não, ela é inerte, inconsciente.
Esta é a resposta fundamental para a pergunta final. Não podemos executar ações e esperar que essas resultem nos frutos desejados. O criador, Īśwarā ou Shiva, é o Senhor da Ação e determina quais frutos e quais ações subsequentes serão realizadas. Não apenas não podemos controlar os frutos de nosso comportamento, nem sequer podemos escolher as próprias ações uma vez que são influenciadas por uma série sem fim de ações passadas. Então a ação é, em si mesma, inerte e inconsciente. Ela e seus frutos são de Īśwarā. Escolhemos nossas ações no sonho?
Para Maharshi, o estado de vígilia e de sonho têm o mesmo grau de realidade.1
No Yoga Vasishta, foi perguntado ao corvo-iogue, Bhusunda, porque ele sobreviveu por tanto tempo. Ele respondeu: “Quem será capaz de passar por cima dos preceitos estritos de Shiva (Īśwarā )? Sua vontade era que eu deveria agir assim e outros iogues deveriam agir da maneira como agiram. Como todo evento pré- ordenado deve produzir seus resultados, tais eventos inevitavelmente acontecerão. Tal é a natureza da lei.”
A palavra jada em Sânscrito é traduzida como “inerte”. Referindo-se a este primeiro verso Maharshi diz: “Não há verdade no inconsciente (inerte). Somente a Consciência única prevalece sobre tudo.”3 E: “karta significa Īśwarā. Ele é o único que distribui os frutos da ação para cada pessoa de acordo com seu Karma. Isto significa que ele é o Brahman manifesto. O Brahman real é imanifesto e sem movimento. É apenas o Brahman manifesto que é chamado de Īśwarā .”
II - kṛti maho-dadhau patana-kāraṇam phalam-aśāśvataṁ gati-nirodhakam
Os frutos da ação não são duradouros e causam a queda da pessoa no grande oceano do karma, bloqueando seu progresso espiritual.
As ações, boas ou más, obviamente trazem resultados que nos causam experiências de prazer e dor. Eles são passageiros, mas deixam sementes de desejo ou medo em nossas mentes, fazendo-nos repetir ou evitar as ações anteriores. Essas sementes ou Vasanas nos envolvem em uma série interminável de obrigações e eventos que nos ligam ao mundo exterior e nos impede de voltarmo-nos para dentro e descobrir nossa verdadeira natureza. Portanto, nenhuma salvação ou libertação do renascimento é encontrada em atividades, por mais importante ou virtuosas que elas possam parecer.
III - īśvarārpitaṁ necchayā kṛtam citta-śodhakaṁ mukti-sādhakam
As ações que são realizadas sem desejo pessoal e cujos frutos são entregues ao Senhor purifica a mente e leva à liberação.
As ações juntamente com seus frutos, servem para prender o indivíduo. Este verso mostra como a ação pode levar indiretamente à salvação. Se a pessoa age de maneira não egoísta e desapegada, sem a intenção de obter benefícios pessoais, essa é a forma de devoção ao Senhor, beneficiando sua criação e libertando a mente de anseios e de agitação.
Maharshi, entretanto, algumas vezes apontaria para as armadilhas da “ação não egoica”: é tão fácil pensar em si mesmo como uma pessoa gentil e generosa porque ajuda os necessitados, que o ego se torna inflado.
A pessoa então passa a esperar e aceitar os frutos do elogio, do reconhecimento e da auto satisfação, levando não ao desapego, mas a uma prisão maior.
O que é descrito neste verso é aquilo que o Gita chama de ações sattvic (satívica): “as ações que sãolivres de apego, que são praticadas, sem amor ou ódio, por aquele que não deseja seus frutos, esta é a ação satívica.”
A pessoa é considerada um agente satívico quando ela é “livre de apego, não dada ao egoísmo, dotada de firmeza e vigor, não afetada pelo sucesso e fracasso.”
IV - kaya-vāṅg-manaḥ kārya-muttamam pūjanaṁ japaś-cintanaṁ kramāt
Rituais de adoração, repetição de nomes sagrados e meditação são praticados com o corpo, com a palavra e com a mente e progridem em excelência nessa ordem.
Claramente, neste verso, Maharshi aconselha que quanto menos a disciplina religiosa for uma prática de rituais exteriores, mais efetiva ela se tornam. Ele disse: “Nós projetamos a nós mesmos em ídolos e os adoramos porque não entendemos a verdadeira adoração interior."
Mas, quando perguntado se tais práticas como banhar-se, orar, cantar e fazer peregrinação a lugares sagrados eram úteis aos aspirantes espirituais ou meramente uma perda de tempo, Sri Bhagavan respondeu: “Todas elas promovem a purificação dos neófitos cujas propensões mundanas apenas começaram a perder força. Pensamentos virtuosos, palavras e tarefas anulam suas negatividades do passado."
O Maharshi assim destaca o valor limitado e preliminar dos rituais, mas não vai tão longe quanto o Vasishta em descartá-los: “O presunçoso desperdiça seu tempo, como besta, na infrutífera ilusão de austeridades (tapas), sacrifícios ( yajna), águas sagradas, visita a santuários e adoração de deuses, oferendas etc.. Mas você deveria abandonar tudo isso como uma tendência à reencarnação.”
Karma ou ação, em alguns contextos, se refere a rituais religiosos e, no quarto verso, O Maharshi continua discutindo o caminho da Ação/Devoção. Nesse caso, o caminho é aquele de karmakanda, a parte dos Vedas que prescreve a obrigatoriedade de rituais e outras atividades.
V - jagata īśadhī yukta-sevanam aṣṭa-mūrti-bhṛd deva-pūjanam
Servir ao mundo, considerando-o como a manifestação do Senhor, é oferecer louvor ao Senhor das Oito Formas.
O “Senhor das oitos formas” é identificado pelo poeta Kalidasa, na introdução de sua mais famosa peça Shakuntala:
Oito formas tem Shiva, senhor de tudo e rei:
E essas são Água, primeira coisa criada;
E Fogo, que acelera o sacrifício iniciado;
O Sacerdote; e a divisão do tempo, Lua e Sol; Aquele que tudo permeia Éter, caminho do som;
A Terra, onde todas as sementes da vida são encontradas;
E Ar, o sopro da vida. Que ele possa se aproximar,
Revelado nisso, e abençoar todos que se reúnem aqui.
Cumprir a parte que a vida nos destina, lembrando sempre que, ao fazer assim, estamos servindo ao Senhor de toda criação, é efetivamente adorar Shiva.
Tendo descrito o caminho da ação nos versos anteriores, o Maharshi, neste e nos próximos cinco, discorre sobre o caminho da devoção e mostra sua relação com a ação e as práticas meditativas.
VI - uttama-stavād-ucca-mandataḥ cittajaṁ japa dhyāna-muttamam
Meditação silenciosa, na mente, é o mais alto e melhor louvor devocional, ou a pronúncia de nomes sagrados, em voz alta ou baixa.
Vemos aqui, como no quarto verso, a escala de excelência. Mais uma vez, o tema do Maharshi é que quanto mais silenciosa e interna for a prática devocional, mais efetiva ela é.
O Maharshi não está rejeitando o cantar de hinos ou a recitação de poesias devocionais. Seus devotos cantavam seus versos enquanto mendigavam comida no Sri Ramanasramam, ou enquanto caminhavam com ele ao redor da sagrada montanha Arunachala.
VII - ājya-dhārayā srotasā samam sarala-cintanaṁ viralataḥ param
Semelhante a um fluxo contínuo de óleo ou uma corrente de água, meditação contínua é melhor que aquela que é interrompida.
O poder potencial da meditação é atingido apenas quando a atenção é prolongada. O poder é dissipado quando a mente se volta para assuntos exteriores. O Maharshi às vezes comentava que programas fixos de meditação a certas horas têm valor limitado. A pessoa deveria se empenhar para em todas as horas segurar o pensamento “Eu”. Ele dizia que a meditação depende da força da mente e deve ser incessante, mesmo quando a pessoa está trabalhando. Horas especiais podem ser de ajuda, mas são destinadas aos novatos.
VIII - bheda-bhāvanāt so’ham-ityasau bhavana ́bhidā pāvanī matā
Meditação na identidade individual e no Senhor, “Eu sou Ele”, é uma forma mais purificada que a meditação que assume uma diferença entre eles.
Assumir que há uma última distinção entre o Senhor e o meditador é negar Sua total presença, ou limitar seu Ser, Poder e Conhecimento. Isso envolve a pessoa em todas as contradições do dualismo, levando- a a lutar com problemas imaginários de identificação ou comportamentos que somente fortalecem o ego. Mesmo assim, o Maharshi aceitava uma aproximação dualística, um certo nível de meditação devocional, como uma forma de ajuda. Ele próprio escreveu poemas de grande beleza e profundidade devocional para Arunachala.
Sankara também escreveu hinos devocionais, aparentemente dualísticos em tom, mas no fundo movendo o devoto para o sentido de unidade com o Senhor. Em qualquer caso, a necessidade final do meditador é voltar sua atenção para dentro do Ser mais do que para alguma imagem ou conceito, não importa quão sagrada.
No Brihadaranyaka Upanisad (I,4,10) o mesmo tema é encontrado: “Aquele que adora o Senhor pensando ‘Ele é um e eu sou outro’ não sabe.” E novamente (IV,4,19)
“Vai de morte em morte aquele que vê diferença, por assim dizer, em Brahman."
IX - bhāva-śūnya-sad bhāva-susthitiḥ bhāvanā-balād bhaktir-uttamā
Pelo poder da meditação, desprovido de pensamentos, a pessoa se estabelece no verdadeiro Ser, e isso é a suprema devoção.
Quando visitantes pediam por instruções espirituais, o Maharshi algumas vezes se referia aoUpadesa Saram e explicava sua mensagem central como, “acalmar a mente e permanecer livre de pensamentos.” O fim do pensamento é verdadeira Bhakti e o início da Sabedoria e Bênçãos. Essa é a suprema devoção porque o Ser e o Senhor são idênticos. “Muitas vezes ele nos disse que somente o verdadeiro bhakta pode ser o verdadeiro jnani, e somente o verdadeiro jnani pode ser o verdadeiro bhakta.”
Total atenção no Ser, destituída de pensamentos outros, é o mesmo que a rendição ao Senhor — não há nenhuma atividade do ego.
Esta inatividade do ego acontece quando o meditador volta sua atenção para longe de todos os outros assuntos e foca sua atenção somente no “Eu”. Paradoxalmente, o ego é assim destruído, sendo privado do suporte que ele requer para ser distinto.
X - hṛt-sthale manaḥ-svasthatā kriyā bhakti-yoga-bodhāśca niścitam
A prática de fixar a mente em sua própria fonte, no Coração, é, sem dúvida, verdadeira Bhakti-yoga e compreensão.
Qualquer que seja o caminho seguido pelo aspirante para a Autorrealização e qualquer que seja a ênfase, se ação ou devoção ou controle da respiração ou conhecimento, tudo isso ao final leva à necessidade de a mente ser absorvida e assim liberta o jiva da tirania do pensamento. O “coração” refere-se aqui não ao coração físico do lado esquerdo do corpo, mas ao coração espiritual do lado direito.
Todavia isso não deve ser tomado literalmente. Quando um devoto comentou que o Maharshi“especificou um lugar particular no corpo, isso é no peito, dois dedos à direita do meio”, Ele respondeu: “sim, isto é o centro da experiência espiritual de acordo com o testemunho dos sábios.... Verdadeiramente falando a pura Consciência é indivisível.... Não há direita ou esquerda para ela... Apenas para um entendimento ordinário um lugar é assinalado no Coração físico.... Desde que durante sua experiência do Coração como pura Consciência, o sábio não esteja consciente do corpo, esta completa experiência é localizada por ele nos limites do corpo físico como um tipo de lembrança enquanto ele está consciente do corpo.”
Quando Maharshi foi questionado especificamente sobre este verso por Devaraja Mudaliar: “A que se refere o Coração ...?”, Maharshi respondeu: “Aquilo que é a fonte de tudo, aquilo onde tudo vive, e aquilo no qual tudo finalmente submerge, é a isso que se refere como o Coração.” Mudaliar continuou: “Como podemos conceber tal Coração?” Maharshi novamente: “Por que você deveria conceber qualquer coisa? Você deve apenas ver de onde o “Eu” surge.”
XI - vayu-rodhanāl līyate manaḥ jāla-pakṣivat rodha-sādhanam
A mente é subjugada pela regulação da respiração, assim como um pássaro fica preso quando capturado no ninho. Esta prática controla a mente.
Retenção da respiração (vayurodhana) é executada de maneira bastante violenta pelos Hatha yogues, resultando em completa paralisação kumbhaka. O Maharshi não recomendava tais extremos e utilizava a palavra kumbhaka no sentido de regulação, ou seja, respiração realizada observando a inspiração e a expiração. Tal prática leva a respiração a se acalmar e por sua vez, à quietude da mente, o que possibilita manter a atenção no “Eu” ou Ser. Em qualquer caso, o Maharshi não dava prioridade ao controle da respiração.
Ele dizia: “A pessoa não necessita atentar para o controle da respiração; controle da mente é suficiente. Controle da respiração é recomendado para aquele que não consegue controlar sua mente diretamente.... Ele pode fazer isso como uma ajuda, mas isso nunca leva à meta.... Uma pessoa mais avançada irá naturalmente direto ao controle da mente sem perder tempo na prática do controle da respiração.”
XII - citta-vāyavaś cit-kriyāyutāḥ śākhayor-dvayī śakti-mūlakā
Mente e respiração, manifestando-se em pensamento e ação, derivam de uma fonte comum, Sakti.
Desde que respiração e pensamento estão enraizados na mesma força vital, o controle de uma equivale ao controle do outro. Poderíamos simplificar dizendo: “Cada vez que o indivíduo respira, a mente celebra. Nenhuma respiração, nenhum pensamento; nenhum pensamento, nenhuma respiração.” Na história do gnomo Vetala, Vasishta diz a Rama: “Ambos são um, como a flor e sua fragrância, ou a semente de gergelim e o óleo nela contido. Prana (respiração) e mente ficam um para o outro numa relação apoiador e apoiado. Se qualquer um deles é eliminado, então o outro deixa de existir. A destruição de ambos garante moksha em tudo.”
A grandeza do Upadesa Saram se assenta, não no conteúdo de cada verso, mas na maneira como o poema liga todos os maiores margas ou caminhos da disciplina espiritual. Neste verso, por exemplo, não há nada de novo. No Quem sou eu?, primeiro de seus escritos, Maharshi diz: “A fonte da mente, de um lado, e a respiração e força vital do outro, são uma e a mesma.”
XIII - laya-vināśane ubhaya-rodhane laya-gataṁ punar bhavati no mṛtam
Absorção, ou laya, e destruição, ou nasa, são os dois tipos de controle da mente. Quando meramente absorvida, ela emerge novamente; mas não, quando é destruída.
Quando o jiva é capaz de realizar a absorção temporária da mente pelo pranayama, ele experiencia neste estado uma forma de samadhi ou experiência da Realidade na qual o ego deixa de interferir, e intensa alegria é desfrutada. Mas, tão logo o controle da respiração cessa, a sensação “Eu sou o corpo” recomeça, e o jiva retorna ao seu estado ativo normal de aprisionamento, com suas dores e prazeres. Sri Maharshi descreve isso dessa forma: “O declínio da mente, mas sem sua destruição, é kevala nirvikalpa samadhi ..... Mesmo que a pessoa pratique isso por anos a fio, se não tiver se libertado das vasanas, ela não obtém a salvação.”
Novamente, referindo-se a este verso: “ Controle da respiração pode apenas produzir manolayana, suspensão temporária da mente. Somente uma meditação unidirecionada pode levar a destruição damente.”
XIV - prāṇa-bandhanāl līna-mānasam eka-cintanān nāśam-etyadaḥ
Quando a mente foi suspensa pela retenção da respiração, ela pode ser aniquilada pela atenção focalizada unicamente no Ser.
Uma vez que a mente foi acalmada pelo controle da respiração, a pessoa deveria prender sua atençãounicamente no Ser, procurando a identidade do ‘Eu’. Se esta prática persistir, eventualmente, todas as outras atividades mentais perderão sua fonte de energia, e o fluxo de pensamento vai desaparecer. Assim, na ausência do senso de separação de Brahman, a pessoa chega ao conhecimento de que há apenas Consciência, e que o indivíduo é apenas Aquilo.
XV - naṣta-mānasot-kṛṣta-yoginaḥ kṛtyam-asti kiṁ svasthitiṁ yataḥ
Que ação resta a ser feita pelo grande yogi cuja mente foi extinta, e quem descansa no seu verdadeiro e transcendente estado de Ser?
Aqui a questão se refere ao estado do jivanmukta, o homem realizado. Quando perguntado sobre isso, o Maharshi explicou que “O jnani é completamente consciente de que seu verdadeiro estado de Ser permanece firme e estável, e todas as ações acontecem em torno dele. Assim pode não haver nenhuma diferença entre o jnani e o ajnani em suas condutas. A diferença reside em seus ângulos de visão. O homem ignorante identifica a si mesmo com o ego e confunde suas atividades com as do Ser, enquanto que o ego do jnani foi completamente perdido.
O estado de liberação é descrito por Sankara em seu Atma Bodha: “Eu sou sem atributos, sem função, eterno, indubitável, puro, imutável, sem forma, livre e não condicionado.”
XVI - dṛśya-vāritaṁ citta-mātmanaḥ citva-darśanaṁ tattva-darśanam
Se a pessoa retirou a atenção dos objetos externos dos sentidos e pôs o foco na luz do Ser, esta é a verdadeira visão da Realidade.
Para realizar o Ser é necessário dar atenção somente ao ‘Eu’, à primeira pessoa. Isto só é possível quando se retira a atenção do ilusório ser, de outras coisas e outras pessoas que constroem o mundo objetivo — e também de imagens e ideias relacionadas ao mundo. Este processo é aquilo que Maharshi denominou atma-vichara ou autoinquirição. “Se a pessoa deixa de lado vichara, o mais eficiente dos sadhanas, não há nenhum outro meio adequado para fazer a mente desaparecer. Se isso acontecer por outro meio, vai parecer que ela submergiu, mas irá surgir novamente.”
Em relação ao ‘externo’ e ‘interno’, Maharshi disse: “Porque sua perspectiva é externamente direcionada, você fala de ‘fora’. Nesse estado você é aconselhado a olhar para dentro. De fato, o Ser não está nem dentro nem fora.”
XVII - mānasaṁ tu kiṁ mārgaṇe-kṛte naiva mānasaṁ mārga ārjavāt
Novamente, se a pessoa insiste em perguntar “O que é esta minha mente?”, ela vai descobrir que realmente não existe tal coisa como: ‘mente’. Este é o caminho direto.
Aquilo que o indivíduo pensava o tempo todo ser ‘sua’ mente acaba por ser nada além do Ser. A mente não tem existência por si mesma e pára de funcionar uma vez que sua natureza é revelada. Manter a atenção no Ser é o caminho direto para conhecer a mente. Isto é o jnana marga ou vichara.
Sankara também insistia na necessidade deste caminho: “Comparado com todos os outros caminhos,
jnana, conhecimento, é o único caminho direto para a liberação. Como cozinhar é impossível sem o fogo, assim também a liberação é impossível sem o conhecimento.”
Embora o conhecimento seja, por fim, essencial para a Realização, ele nem sempre é aconselhável para todos independentemente do estágio de entendimento ou desenvolvimento espiritual. Quando perguntado: “Pode o caminho da inquirição ser seguido por todos os aspirantes?”, o Maharshi respondeu: “Ele é adequado apenas para espíritos maduros. Os demais deveriam seguir diferentes métodos de acordo com o estado de suas mentes.”
XVIII - vṛttayas-tvahaṁ vṛtti-māśritaḥ vṛttayo mano viddhayahaṁ manaḥ
O que a pessoa pensava sobre sua mente é meramente um amontoado de pensamentos. Todos estes pensamentos dependem de um único pensamento “Eu”, o ego. Sendo assim, esta assim chamada mente é o pensamento “Eu”.
O poder do “pensamento-Eu” é sem limites. No Yoga Vasishta, Shiva diz a Vasishta que “Esta ideia de ‘Eu’ traz no seu rastro as ideias de tempo, espaço e outras forças.”1 A mente é a ilusão Eu-sou-o-corpo. O Maharshi diz especificamente: “A mente é somente a identidade do Ser com o corpo.”
Claramente, o ponto central dos ensinamentos do Maharshi envolve o entendimento da natureza da mente e sua relação com o aprisionamento e a liberdade do ser humano. Nos versos precedentes o controle ou a aniquilação da mente foi discutido. Agora somos advertidos de que a mente é simplesmente um fluxo de pensamentos envolto no sentimento de ‘Eu’ erroneamente associado ao corpo.
XIX - aham-ayaṁ kuto bhavati cinvataḥ ayi patat-yahaṁ nija-vicāraṇam
Se a pessoa se pergunta “De onde vem este Eu?”, ele vai desaparecer. Isto éAutoinquirição ou Atma-Vichara.
Visto que o sentimento “Eu-sou-o-corpo” é ilusório, ele não pode continuar com seu disfarce sob uma inquirição incessante. O Maharshi ensinou: “O pensamento ‘Eu sou este corpo de carne e sangue’ é o fio principal no qual estão amarrados os outros vários pensamentos. Sendo assim, se nos voltamos para dentro, inquirindo ‘Onde está este Eu?’, todos os pensamentos, incluindo o ‘Eu-pensamento’, chegam ao fim, e o Autoconhecimento irá espontaneamente brilhar dentro do coração como Eu-Eu....”1
XX - ahami nāśa-bhāj-yaham-ahaṁtaya sphurati hṛt-svayaṁ parama-pūrṇa-sat
Onde este ‘Eu’ desapareceu e submergiu em sua Fonte, lá aparece espontânea econtinuamente o “Eu-Eu”. Este é o Coração, o infinito Supremo Ser.
Os devotos, às vezes, tinham dificuldade de entender o uso que Maharshi fazia do termo ‘Eu’,embora nesta e em outras afirmações, ele deixava o significado claro. Em última análise, ‘Eu’ é o nome de Deus ou o nome de nosso ser real. Em relação ao limitado e ignorante indivíduo, ‘Eu’ se refere ao Ego ou a ilusão “Eu-sou-o-corpo”. Esta ilusão ‘Eu’ é descontínua, dividida em estado de vigília e sono, ausente no sono profundo. O Maharshi se refere ao verdadeiro ‘Eu’ como “Eu-Eu” para indicar sua natureza contínua. Verdadeiramente, não há nenhuma maneira de que este “Eu-Eu” seja compreendido intelectualmente por qualquer pessoa. O verdadeiro ‘Eu’ aparece, ou é experenciado, somente quando a mente é aniquilada, em sono profundo ou permanentemente no caso do jnani.
Novamente, em última análise, “não há nem Eu (ego) ou qualquer outra coisa. Apenas Brahman existe sempre, cheio de beatitude por toda parte.”
XXI - idam-aham padā’bhikhyam-anvaham ahami-līnake’pyalaya-sattayā
E este ininterrupto “Eu-Eu” é o verdadeiro significado do termo ‘Eu’ porque, quando o estado de vigília ‘Eu-ego’ diariamente desaparece no sono profundo, o ‘Eu’ real permanece.
A cada dia o jiva experimenta o equivalente à morte quando capturado pelo sono, da mesma forma que na morte do corpo físico, sua verdadeira identidade permanece. Portanto o jnani não tem mais medo da morte, como não tem medo quando vai dormir, pois sabe que seu puro Ser e Consciência não são afetados por ela. O mesmo é verdadeiro para todos os jivas, ainda que o ignorante não saiba disso e viva num estado de medo e desejo — desejo por um estado de paz, segurança e felicidade que já é a sua real natureza.
XXII - vigrahendriya prāṇadhī-tamaḥ nāham-eka-sat-tajjaḍam hyasat
Este verdadeiro ‘Eu’, a única Realidade, não é o corpo, ou os sentidos, ou a mente, ou a respiração, ou a ignorância. Estes são todos inertes e inanimados.
Descobrir esta verdade é o real propósito da vida humana. Prazer, felicidade e satisfação são certamente encontrados neste mundo de experiências sensoriais, mas elas são, infelizmente, apenas condições temporárias, limitadas por tempo e lugar — inevitavelmente seguidas de dor e frustração.
No Manusamhita, o estudante é ensinado: “Desejos nunca são extintos pelo desfrutar dos objetos do desejo. Eles apenas crescem, mais fortes, como o fogo alimentado por manteiga clarificada. Se um homem dispusesse de todos os prazeres sensuais e um outro renunciasse a todos eles, tal renúncia de todos os prazeres seria de longe muito melhor que a realização deles.”
Este verso do Upadesa Saram explica por que é assim. Os sentidos e o corpo não são nosso verdadeiro ‘Eu’ ou Ser. Qualquer tentativa de usá-los para satisfação está fadada a terminar em futilidade. Entretanto, até à liberação, nos sentimos compelidos a repetir cada tentativa de novo e de novo.
A pessoa deve sublinhar neste verso o sentido: “em si mesmos”. Quando perguntado por que Upadesa Saram fala do corpo etc. como jada, ou inanimado, Maharshi respondeu: “Eles são inanimados na medida em que você diz que eles estão separados do Ser. Mas quando o Ser é encontrado, o corpo, os sentidos etc. estão também no Ser. No devido tempo ninguém fará apergunta e ninguém dirá que eles são sem consciência.”
O verso diz respeito especificamente aos cinco corpos que envolvem o indivíduo e o impedem de realizar sua verdadeira natureza. Tamas (tamah), ‘escuridão’ ou ‘ignorância’ se refere ao anandamayakosa, ou corpo de felicidade, que recobre a pessoa durante o sono profundo.
XXIII - sattva-bhāsikā cit-kvavetarā sattayā hi cit-cittayā-hyaham
Há apenas um único Ser que pode conhecer a Realidade. Este apenas um Ser é: Realidade e Consciência.
Esta simples revelação resume toda a experiência do jnani, e toda a metafísica do advaita. A alusão aqui é sobre a impossibilidade de o olho ‘ver’ a si mesmo. O Ser (Realidade) não pode ver a um si mesmo, visto que não há dois Seres para se verem um ao outro. O Ser pode apenas Ser ele mesmo. Ele ‘vê’ a si mesmo como um reflexo no cosmos, da mesma maneira que o olho requer um espelho para ver sua própria forma.
O comentário de Sri Maharshi sobre este verso e o anterior é sobre onde a consciência repousa. “No verso anterior, o corpo, os sentidos, respiração, mente e ignorância são descritos como asat (irreais) e jadam (inertes), enquanto o ‘Eu’ é eka sat (a única Realidade). Então a pergunta permanece: O Eu é chit (consciência) ou jadam (inconsciente)? A resposta para isto é dada no verso XXIII. Sat (Realidade) é chit (consciente).”
Conversando com uma garotinha de 5 anos, Indira, que tinha em mãos alguns textos em Sânscrito doUpadesa Saram, (verso XXII e XXIII), o Maharshi explicou a ela o que significavam “Eu não sou o corpo,Quem sou Eu? Eu sou Ele.” (deham naham koham soham). O Maharshi pediu a ela para fazer dessas palavras seu mantra, dizendo que elas eram a essência da sabedoria. Indira continuou a recitar estas palavras pelo resto de sua breve vida.
XXIV - iśa-jīvayor veṣa-dhi-bhida sat-svabhāvato vastu-kevalam
Ambos, Criador e criatura, são essencialmente uma e a mesma Realidade. Sua aparente diferença é devida apenas a diferenças de forma e níveis de conhecimento.
A chave para o entendimento deste verso e do próximo é vesa ou atributos. Vastu kevalam, ou Brahman Absoluto é Nirguna Brahman, sem quaisquer atributos limitantes. Saguna Brahman é a Última Realidade que aparece como manifestação e tem atributos. Deus, o Criador, ou Isa, tem assim os atributos ‘todo poderoso’, ‘onisciente’. O indivíduo, ou jiva, é ignorante e fraco. Assim, basicamente, Isa e jiva têm a mesma substância.
Tão logo a pessoa pensa ser o corpo, ela fica limitada aos atributos. Quando, pela inquirição“Quem sou eu?”, ela descobre que não é o corpo, também descobre que ela é, em realidade, sem atributos como Brahman.
Referindo-se à tríade comum a quase todos os sistemas religiosos, o Indivíduo, o Mundo e Deus, Sri Bhagavan diz que todos eles são ilusões da mente extrovertida. Quando, entretanto, eles são vistos sob o ponto de vista da Realidade Última são considerados Um. O texto Sânscrito isajivayo (sobre Īśwarā e o indivíduo) identifica duas pessoas, o Criador e a criatura, e o verso conclui que eles são o mesmo em essência (o Absoluto Brahman), diferindo apenas em seus atributos de poder e conhecimento.
XXV - veṣa-hānataḥ svātma-darśanam īśa-darśanam svātma-rūpataḥ
Quando a criatura abandona sua ilusória forma individual e reconhece a si mesma como sem atributos, ela percebe o Criador como o seu verdadeiro Ser.
A solução para a ignorância e a fraqueza do indivíduo é aqui revelada. Está na eliminação dos atributos (vesa) pelo reconhecimento de que nem corpo nem mente são nossa verdadeira identidade, mas apenas veículos de limitação. Tal reconhecimento só é possível após a morte do ego e a rendição ao Criador. Então ambos são reconhecidos como sendo a mesma Realidade ou Ser sem atributos.
Ironicamente, nossos esforços para melhorar nossa imagem e conseguir fama, riquezas e poder servem, na verdade, para aumentar nossas limitações.
XXVI - ātma-saṁsthitiḥ svātma-darśanam ātma-nirdvayād ātma-niṣṭhatā
Sendo o Ser, Ele se conhece como Tal, porque há apenas um único Ser e não dois. Este Ser e conhecer o Ser é permanecer na Realidade.
O mesmo ensinamento é descrito no trabalho Forty Verses on Reality (Quarenta versos sobre aRealidade) de Ramana Maharshi: “Uma vez que a mente está voltada para dentro e alojada no Eu, como é possível pensar no Eu com a mente?”1
Mais adiante: “Pode o conhecimento ser outro além do conhecimento do Ser? O Ser é o cerne, o Coração. Como então pode o Ser Supremo ser contemplado e glorificado? Apenas permanecendo como o Puro Ser....”
Sendo assim, é fútil tentar entender o Ser com argumentos racionais e intelectuais. O pensamento é um obstáculo à ‘Autorrealização’, que ao final só pode ser atingida quando o ego foi destruído e todas as conceitualizações abandonadas.
XXVII - jñāna-varjitā ́jñāna-hīna-cit jñānam-asti kiṁ jñātum-antaram
O verdadeiro conhecimento está além daquilo que pensamos ser o‘conhecimento’ ou ‘ignorância’ porque no estado de Não diferenciação que outra coisa há para ser conhecida?
O jnani está consciente de que tudo é o Ser. Ele não ‘vê’ objetos existindo como objetos em si, masapenas como reflexos do Brahman universal. Sendo assim, dado que o jnani não é ignorante, ele também não tem ‘conhecimento’ dos objetos. Diferente do jiva, ele não vê nada como ‘outro’ além do Ser.
Sankara insistia nisso como a essência do advaita: “Todas as modificações do barro, como um jarro, um pote etc., aceitas pela mente como sendo reais, são em realidade nada mais que barro. De maneira similar, este universo inteiro, que é criado pelo Brahman real, é Brahman, ele próprio, e nada mais que Isto.”1 E novamente: “Tudo o que é percebido, tudo o que é ouvido, é Brahman, e nada mais. Alcançando o conhecimento da Realidade, a pessoa vê o universo como o Brahman não dual: Ser, Conhecimento e Bem Aventurança Absolutos.”
XXVIII - kiṁ svarūpam-ityātma-darśane avyayā ́bhavā ́ ́pūrṇa-cit sukham
Se o seu verdadeiro Ser é conhecido, então não há mais nem nascimento nem morte, mas eterno Ser, Consciência e Bem- aventurança.
O Maharshi frequentemente pedia àqueles o procuravam para descobrirem se eles, alguma vez, tinham nascido. Ele então dizia que se pudessem responder a esta pergunta fundamental, não deveria haver mais nenhuma pergunta. Este verso coloca o assunto numa ordem diferente: Quando, através do Sadhana prescrito nos versos precedentes, a pessoa conhece o seu verdadeiro Ser, ela vai descobrir que nunca nasceu.
Toda a existência é experimentada por uma aparente entidade que acredita ter nascido e que deve desfrutar e sofrer esta experiência — uma entidade que irá, finalmente, morrer. Isto é tão real como os objetos num sonho.
XXIX - bandha-muktyatī taṁ-paraṁ-sukham vindatīhajī vastu-daivikaḥ
O jiva que alcança o estado de Suprema Bem-aventurança além de qualquer pensamento de limitação ou liberdade é verdadeiramente devotado ao Senhor.
Este é o verso de conclusão do Maharshi sobre o relacionamento entre os margas (caminhos) de bhakti e jnana, previamente mencionados no verso V. Permanecer no estado de Suprema Bem-aventurança é o verdadeiro ‘serviço’ ou ‘devoção’ ao Senhor porque o jiva divino não está separado de Brahman e realizou sua identidade. O que quer que ele possa ‘fazer’ é divino.
Devoção não é realmente bhakti enquanto o devoto acreditar que ele é uma realidade separada, usurpando assim algo da universalidade do Ser e da Consciência de Brahman. Somente a total rendição da sua individualidade pode ser verdadeiro bhakti, que é também verdadeiro jnana.
XXX - aham-apetakaṁ nija-vibhānakam mahad-idaṁ-tapo ramaṇa-vāgiyam
Quando o ‘Eu’ individual desapareceu e o real ‘Eu-Eu’ foi encontrado, este é o mais excelente dos tapas (austeridades). Ramana diz isto.
O verso final coloca todo o Upadesa Saram no cenário da história dos ascetas da floresta de Daruka, que praticavam austeridades (tapas) para propósitos errados como contada por Muruganar. O Maharshi afirma aqui que atma vichara é o “mais excelente dos tapas” e que deveria ser praticado para alcançar a verdadeira felicidade. Muruganar escreveu a versão original em Tamil deste verso, declarando que Ramana Maharshi é o verdadeiro Ser. Sri Ramana Maharshi não disse que ele era ‘iluminado’, exceto por implicação, e não citou essa declaração de Muruganar na sua versão em Sânscrito do verso. Apesar disso, é Sri Ramana, o Ser, falando nestes trinta versos. E para aqueles que entendem e seguem e são libertados por estes conselhos, é Ele somente quem ensina, guia e liberta.
Glossário
Advaita - Não-dualidade. Existe apenas uma única Realidade. Todas as formas de existência fenomênica são, em si mesmas, ilusórias.
Ajnani - Pessoa ignorante ou não realizada Asat - Ilusório ou irreal
Atma - O Ser
Bhakta - Devoto
Bhakti - O Caminho da devoção como um meio de salvação Brahman - A Realidade Última
Chit - Consciência Universal
Eka Sat - A Única Realidade
Guna - Nome comum para os três atributos ou qualidades (embotamento, atividade, ser) que caracterizam todas as coisas criadas
Guru - Preceptor espiritual, mestre
Hatha Yoga - Um tipo de yoga que enfatiza posturas e movimentos do corpo
Isa - Senhor, título de Shiva
Jada - Inerte, Inconsciente
Jiva - O indivíduo, ego
Jnana - Sabedoria, conhecimento absoluto
Jnani - O sábio, ou aquele que é Autorrealizado
Karma - Ação ou suas consequências, causalidade
Karmakanda - Seção dos Vedas que se refere a cerimônias e rituais
Karta - O fazedor das ações
Kevala Samadhi - A temporária absorção ou submersão das
atividades mentais
Kumbhaka - Suspensão da respiração após a inalação Laya - Absorção ou inatividade da mente
Manas - Mente
Manolaya - Quietude temporária da mente
Mantra - Palavras sagradas a serem repetidas pelo devoto
Marga - O caminho da Realização, especialmente aqueles de Karma, Bhakti, Raja e Jnana Yogas ou ação, devoção, controle da mente e conhecimento respectivamente
Maya - Ilusão, ou o poder que cria o mundo irreal das formas Moksha - Emancipação ou Liberação da ilusão de Maya
Mouna - Silêncio da mente mais que meramente silêncio da fala
Mukta - Aquele que atingiu Moksha
Nasa - Destruição
Nirguna Brahman - Realidade Última sem atributos
Parabhatki - Suprema devoção, total entrega à Brahman
Prana - Hálito, força da vida
Pranayama - Controle da respiração
Prarabdha Karma - A porção do destino que deve ser experimentada ou representada na vida presente
Raja Yoga - Sistema de yoga defendido por Patanjali, que enfatiza disciplina mental e física
Rajas - A guna da atividade e da paixão
Sadguru - O verdadeiro Guru, que finalmente deve ser encontrado dentro de cada um
Saguna Brahman - A Realidade Última, manifestando a si mesma com atributos como o mundo dos fenômenos
Sakti - O poder criativo e motivador no universo
Samadhi - Estado de super-consciência no qual o pensamento
é suspenso e a individualidade transcendida Sattva - A guna da bondade e do Ser
Siddhi - Poderes sobrenaturais, adquiridos através de disciplinas do yoga. Também um aspecto do estado de Autorealização
Soham - A meditação, "Eu sou Shiva"
Tamas - A guna da ignorância, escuridão, preguiça
Tapas - Austeridades, praticadas como ajuda para atingir a Autorealização ou para adquirir poderes especiais ou para atingir objetivos
Vasana - Tendências mentais que levam às atividades habituais
Vesha - Atributos, caracterizando várias formas de ser 88
Vichara - O caminho da Autoinquirição (Quem sou Eu ?) enfatizado por Ramana Maharshi
Yajna - Sacrifício
Yoga - União com o Supremo Ser, algumas vezes
especificamente Raja Yoga